ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE E COMUNICAÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA DESINFORMAÇÃO SOBRE A GIARDÍASE EM COMUNIDADE RURAL DA BAHIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA

Autores

  • Amanda Carolina do Carmo Jesus
  • David Alves Maciel Lima
  • Silvane Maria Braga Santos
  • Simone Souza de Oliveira

Palavras-chave:

Educação em Saúde, Extensão Universitária, Giardíase

Resumo

SEMINÁRIO: EDUCAÇÃO, INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E SAÚDE: PROTEÇÕES CONTRA A DESINFORMAÇÃOEIXO TEMÁTICO: GT1 ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE E COMUNICAÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA DESINFORMAÇÃO SOBRE A GIARDÍASE EM COMUNIDADE RURAL DA BAHIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTAHEALTH EDUCATION AND COMMUNICATION STRATEGY TO ADDRESS MISINFORMATION ABOUT GIARDIASIS IN A RURAL COMMUNITY IN BAHIA: AN EXTENSION EXPERIENCE REPORTResumo: Este relato de experiência descreve uma estratégia de educação em saúde para combater a desinformação sobre giardíase em uma comunidade rural na Bahia, visando transformar conhecimento científico em práticas de cuidado à saúde. O objetivo foi relatar as experiências de estudantes de Farmácia em uma ação extensionista, detalhando as estratégias de comunicação e educação utilizadas para transmitir informações corretas sobre a giardíase e promover práticas preventivas. As atividades incluíram diagnóstico situacional com coleta de amostras de fezes e inquérito socioeconômico, devolutiva dos resultados, planejamento e aplicação de ferramentas educativas como palestra dialogada, folhetos, vídeo animado, jogo educativo e oficina de manutenção de filtros de barro. Os resultados revelaram uma prevalência de parasitos intestinais e deficiências no saneamento básico. As atividades propostas levaram ao engajamento significativo da comunidade com as ferramentas educativas e desmistificação de conceitos errôneos. Conclui-se que as atividades de extensão universitária, quando bem planejadas e executadas, são instrumentos poderosos para capacitar os cidadãos a tomar decisões informadas sobre sua saúde e combater a desinformação. Palavras-chave: Educação em Saúde; Extensão Universitária; Giardíase.  Abstract: This experience report outlines a health education strategy implemented to address misinformation regarding giardiasis within a rural community in Bahia. The initiative aimed to translate scientific knowledge into health care practices. The objective was to recount the experiences of pharmacy students during an extension activity, detailing the communication and education strategies employed to convey accurate information about giardiasis and promote preventive measures. Activities included a situational diagnosis involving sample collection and a socioeconomic survey, feedback of results, planning, and the application of educational tools such as presentations, leaflets, an animated video, an educational game, and a workshop on maintaining ceramic water filters. The findings indicated a prevalence of intestinal parasites and inadequacies in basic sanitation, which led to significant community engagement with the educational tools and the dispelling of misconceptions. In conclusion, well-planned and executed university extension activities are powerful instruments for empowering citizens to make informed health decisions and combat misinformation. Keywords: Health Education; University Extension; Giardiasis. 1 INTRODUÇÃOA educação em saúde é compreendida como uma ação que visa transformar conhecimento científico em práticas reais para a promoção de cuidados à saúde, considerando a realidade social por meio de práticas educativas que proporcionam o diálogo entre profissional e comunidade (Cruz et al. 2024). Trata-se de uma ação pautada no diálogo rico em interações, vivências e estudos, onde professores, estudantes e profissionais de saúde protagonizam a disseminação de informações e ações práticas para o público-alvo (Cruz et al. 2024). Para que tal movimento alcance a eficiência desejada, é crucial que os envolvidos estejam aptos a ouvir os relatos de experiências da comunidade, a fim de direcionar adequadamente as práticas de cuidados à saúde.Nesse contexto, a curricularização da extensão universitária surge como um componente indispensável no âmbito do ensino, estabelecendo uma conexão vital entre a universidade e a sociedade. A instituição de ensino superior desempenha um papel crucial na realização de atividades e pesquisas que contribuam positivamente para a sociedade (Gadotti et al. 2017). A extensão, ao fortalecer essa relação, propicia um espaço dialógico democrático e de saber compartilhado, onde a comunidade contribui ativamente para o produto dos processos educacionais (Fernandes, 1960; Granjeiro, 2016).Estudos sobre doenças parasitárias, como a giardíase, são de grande importância social, visto que um alto percentual da população brasileira é acometida por esta parasitose que desencadeia diversos problemas de saúde (Camargo amp; Camargo, 2017). Frequentemente, a causa subjacente reside na falta de saneamento básico, no fornecimento de água sem tratamento adequado, em condições precárias de trabalho e, crucialmente, em um déficit de educação em saúde em diversas localidades (Camargo amp; Camargo, 2017). A giardíase, uma infecção intestinal com prevalência significativa (20–30% em países em desenvolvimento), configura-se como um grave problema de saúde pública, especialmente entre crianças e adolescentes (Cayres et al., 2023). Um estudo em Vitória da Conquista, Bahia, por exemplo, revelou que 33,8% dos participantes estavam infectados por Giardia duodenalis (Cayres et al., 2023).Em comunidades vulneráveis, a educação em saúde é fundamental, pois pode estimular hábitos de higiene adequados e conscientizar sobre a importância do tratamento correto da água, reduzindo a prevalência da doença e melhorando a qualidade de vida (Cayres et al., 2023). No entanto, a disseminação de informações falsas ou incompletas sobre saúde representa um desafio significativo, minando os esforços de prevenção e controle de doenças.O presente relato de experiência descreve uma estratégia de educação em saúde implementada em uma comunidade rural da Bahia, com o objetivo de prevenir e controlar infecções por Giardia duodenalis, destacando como tais ações extensionistas podem combater a desinformação e capacitar a comunidade com conhecimento científico validado e adaptado à sua realidade. Esta iniciativa se alinha ao GT 1 – Educação e Desenvolvimento de Competências em informação para o enfrentamento à desinformação na Ciência e na Saúde, ao demonstrar uma abordagem prática de como a universidade pode atuar na linha de frente da promoção da literacia em saúde e no combate a narrativas equivocadas que comprometem o bem-estar populacional.O objetivo deste trabalho é, portanto, relatar as experiências vivenciadas por estudantes de graduação em Farmácia em uma ação extensionista, detalhando as estratégias de comunicação e educação utilizadas para transmitir informações corretas sobre a giardíase, desmistificar crenças populares e promover práticas preventivas baseadas em evidências científicas. A metodologia utilizada foi o relato de experiência e, como principais resultados, destacam-se o engajamento da comunidade, o fortalecimento do vínculo entre universidade e sociedade, e a efetiva disseminação de informações científicas contextualizadas. Assim, apresentam-se breves considerações sobre a relevância da extensão universitária como ferramenta de enfrentamento à desinformação em saúde.2 DESENVOLVIMENTO A experiência relatada fundamenta-se na concepção freiriana de educação em saúde como um processo dialógico e emancipador, que valoriza os saberes locais e promove a construção coletiva do conhecimento (Freire, 2015). Essa abordagem contrasta com modelos verticais e informativos, buscando estimular a criticidade e a autonomia da comunidade na adoção de práticas saudáveis.Nesse contexto, a extensão universitária se configura como elo entre a universidade e a sociedade, promovendo intervenções educativas contextualizadas e transformadoras (Divino et al., 2013). A ausência de saneamento básico e a circulação de informações incorretas sobre higiene e tratamento de água agravam o risco de doenças como a giardíase (Peixoto et al., 2021). Portanto, estratégias como oficinas, jogos, vídeos e materiais educativos tornam-se fundamentais para promover a saúde, combater mitos e favorecer a aprendizagem significativa (Cardoso; Batista, 2021; Garcia; Eiró-Gomes, 2022; Benevides, 2024).As atividades foram desenvolvidas pelo componente curricular Parasitologia Humana (BIO 374/179), do Departamento de Ciências Biológicas (DCBIO) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), em colaboração a equipe do  programa de extensão intitulado “Estudos Parasitológicos na Microrregião de Feira de Santana” (PEPMFSA), resolução Consepe 07/1999 e discentes dos cursos de Ciências Biológicas e Farmácia. O local da intervenção foi a Escola Municipal Professora Neuza Maria Pires da Silva, na Fazenda Várzea da Casa, município de Santo Estevão - BA. Este relato de experiência descreve as atividades de estudantes de Farmácia, no primeiro semestre de 2024, orientadas por docentes e membros do PEPMFSA. Nesse sentido, o trabalho iniciou-se com visitas quinzenais à comunidade, aplicação de inquérito socioeconômico-sanitário e distribuição de frascos para coleta de fezes, com consentimento livre e esclarecido. As amostras foram analisadas no LAC-UEFS e os resultados subsidiaram o planejamento da intervenção educativa. As atividades do programa de extensão estão autorizadas pelo  Comitê  de  Ética  e  Pesquisa  com  Seres  Humanos  (CEP) da UEFS, CAAE  58923722.8.0000.0053.A intervenção foi orientada pelos dados epidemiológicos e pelo contexto sanitário local, priorizando a prevenção da giardíase. Foram utilizadas metodologias ativas, com perguntas norteadoras sobre giardíase para estimular o diálogo, uma apresentação dialogada com banner ilustrativo, seguida pela distribuição de folhetos com orientações práticas, exibição de vídeo animado com linguagem lúdica, a aplicação de um jogo educativo “Sete Erros” para fixação dos conteúdos e encerramento com uma oficina prática sobre o uso e a manutenção de filtros de barro (Figura 1). Em suma, todas as ferramentas buscaram articular o conteúdo científico com a realidade da comunidade, promovendo a troca de saberes e a valorização da experiência local.Figura 1. Imagens ilustrativas das atividades realizadas pelos discentes de Parasitologia Humana (BIO 374/179) do DCBIO da UEFS do semestre 2024.1 e PEPMFSA-UEFS na Escola Municipal Professora Neuza Maria Pires da Silva, na Fazenda Várzea da Casa, município de Santo Estevão - BA 2024. A: Apresentação do Programa; B: Início da dinâmica da Equipe Giardíase com a apresentação das perguntas norteadoras; C: Apresentação da parasitose com o banner sobre a protozoose; D: Vídeo animação da história de Maria e jogo de identificação dos erros; E: Folhetos informativos com medidas de prevenção e controle de doenças parasitárias de veiculação hídrica como a giardíase; F: Oficina de manutenção do filtro de barro; G: Finalização do evento o local de estudo (Santo Estevão, Bahia, 2024).Fonte: Os autores.Ao traçar o perfil epidemiológico e socioambiental daquela população, constatou-se que das 216 amostras analisadas, 31,5% foram positivas para parasitos intestinais, sendo 25,0% para protozoários como a Giardia duodenalis. As informações do inquérito indicaram uso predominante de água de poço e ausência de esgotamento sanitário, reforçando a relação entre condições precárias de saneamento e a ocorrência da giardíase.Durante a intervenção, a comunidade demonstrou engajamento significativo. O vídeo e o jogo mostraram-se eficazes na transmissão de mensagens para públicos com diferentes níveis de escolaridade. Os folhetos foram valorizados como material de consulta doméstica, e a oficina sobre o filtro de barro possibilitou o esclarecimento de mitos locais com base em evidências técnicas, fortalecendo a autonomia dos participantes. Portanto, é válido ressaltar que a vivência extensionista permitiu aos estudantes de Farmácia envolvidos, o desenvolvimento de competências essenciais à prática profissional em saúde, como comunicação acessível, escuta ativa e adaptação do discurso técnico para diferentes públicos. 3 CONCLUSÕES/ CONSIDERAÇÕES FINAIS3.1 Objetivos alcançadosA ação extensionista realizada na comunidade rural de Santo Estêvão, Bahia, alcançou com êxito os objetivos propostos, pois, através da promoção de hábitos de higiene e prevenção de doenças parasitárias, com ênfase na giardíase, houve o combate à desinformação e a valorização da literacia em saúde, bem como a aplicação prática dos conhecimentos técnico-científicos por parte dos estudantes da disciplina de Parasitologia Humana, o que fortaleceu o vínculo entre universidade e comunidade.3.2 Dados e resultados relevantesA experiência evidenciou que a metodologia dialógica e participativa favoreceu a aprendizagem tanto dos discentes quanto da comunidade, que também demonstrou receptividade às práticas educativas e engajamento nas atividades propostas. A intervenção demonstrou que o uso de recursos lúdicos e interativos (vídeo animado, jogo educativo e oficina de manutenção de filtros de barro) facilitou a compreensão de conceitos científicos e de práticas preventivas. Nesse momento, houve desconstrução de mitos e esclarecimento de dúvidas relacionadas à transmissão da giardíase e ao uso seguro da água.3.3 Recomendações e perspectivas futurasRecomenda-se que futuras ações extensionistas continuem investindo em abordagens metodológicas ativas e culturalmente sensíveis e envolvam ativamente os moradores na construção e disseminação do conhecimento. É imperativo que essas ações sejam contínuas, possibilitando o monitoramento dos impactos e a consolidação das mudanças de comportamento e que os profissionais da saúde valorizem a comunicação em saúde como ferramenta estratégica para o enfrentamento da desinformação.Dessa forma, reafirma-se que iniciativas como essa não apenas transformam realidades locais, mas também preparam futuros profissionais da saúde com consciência social, senso crítico e responsabilidade cidadã, alinhando-se aos propósitos do Seminário Educação, Informação, Comunicação e Saúde. REFERÊNCIASBELLINGIERI, J. C. Água de beber: a filtração doméstica e a difusão do filtro de água em São Paulo. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 12, n. 1, p. 161–191, dez. 2004. BENEVIDES, R. G. et al. Oficinas multitemáticas: estudantes como protagonistas na popularização da ciência em Feira de Santana – BA. Revista de Divulgação Científica Sena Aires, v. 13, n. esp., p. 263–273, 2024. CAMARGO, E. A. 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Publicado

2025-10-09