A influência do fracionamento da dieta no manejo alimentar de dois grupos sociais de Macaca mulatta (Zimmermann, 1780)

Autores

  • Raphael Siqueira de Castro
  • Richard Cosme Calixto de Oliveira
  • Ricardo de Souza Cruz
  • Milena Bezerra de Souza
  • Suzana Silva Fernandes
  • Paulo Ricardo Ferreira Filho
  • Letícia Oliveira da Silva

DOI:

https://doi.org/10.55592/azab.v1i1.7974

Palavras-chave:

Biomodelo, Macaco rhesus, Nutrição, Primatas não humanos

Resumo

Resumo A nutrição adequada influencia diretamente na qualidade de vida dos primatas não humanos. O objetivo do estudo foi avaliar se a oferta fracionada da dieta influencia no nível de consumo total estimado para os animais. O projeto foi realizado com indivíduos de Macaca mulatta. Na fase F1, o manejo alimentar aconteceu três vezes ao dia e, na F2, a oferta da dieta foi fracionada em cinco partes. A pesagem dos itens, a oferta dos alimentos menos palatáveis para os mais palatáveis e o acompanhamento do consumo dos itens é de extrema necessidade para garantir a nutrição, saúde e bem-estar dos animais. Palavras-chave:  Biomodelo. Macaco rhesus. Nutrição. Primatas não humanos. Introdução A colônia de macacos rhesus (Macaca mulatta) do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB), Fiocruz, Rio de Janeiro, auxilia no desenvolvimento de estudos que envolvam doenças tropicais, como forma de auxiliar na prevenção e controle de enfermidades de relevância epidemiológica para a saúde pública (SIMMONS, 2016; PISSINATTI, GOLDSCHMIDT; SOUZA, 2010). A condição nutricional influencia diretamente no crescimento, reprodução e longevidade dos primatas não humanos (PNH), bem como na capacidade de resistência aos patógenos. A nutrição é um dos cinco pilares do bem-estar animal (MELLOR et al. 2020), sendo a dieta adequada essencial para assegurar resultados reprodutíveis nas pesquisas biomédicas (ANDRADE, 2002). A ecologia alimentar do macaco rhesus é extensa e inclui folhas, frutas, flores, cascas, raízes, entre outros itens (NRC, 2003). A apresentação da dieta é tão importante quanto o seu conteúdo nutricional, especialmente dada a diversidade da ecologia alimentar e das habilidades cognitivas dos primatas.  As diferentes técnicas de se oferecer a alimentação ao longo do dia podem proporcionar novas oportunidades de busca, forrageamento e condições mais parecidas com o ambiente in situ (HAMMERTON, HUNT, RILEY, 2019). Objetivos Avaliar se a oferta fracionada da dieta influencia no nível de consumo total estimado em primatas da espécie Macaca mulatta. Metodologia O estudo foi realizado em dois grupos sociais de M. mulatta, em diferentes estágios de desenvolvimento, provenientes do Criatório Científico de Primatas não Humanos do ICTB/Fiocruz. O Grupo A (GA) foi composto por 13 animais e o Grupo B (GB) por 20. Ambos os grupos possuem animais subadultos, adultos e idosos. As dietas foram formuladas e balanceadas de forma individual e extrapoladas para o grupo, sendo compostas por 70% de ração industrializada (Megazoo© Primatas Velho Mundo) e 30% de produtos hortifrutigranjeiros (banana, manga, melão, berinjela, quiabo, jiló, espinafre, agrião, rúcula, folhas de amora e ovo de galinha) na matéria seca total. As necessidades de energia metabolizável (NEM) a serem atendidas foram obtidas a partir da taxa metabólica basal com ajustes para as diferentes fases fisiológicas dos indivíduos atendidos (NRC, 2003). As porções a serem ofertadas foram estabelecidas a partir das quantidades de alimentos por indivíduo, somadas ao total de animais do grupo. Para ambos os grupos o projeto foi dividido em duas fases (F1 e F2) (Quadro 1). GA e GB possuem 3 comedouros cada, dispostos nas áreas internas e externas do recinto. Na F1 o manejo alimentar permaneceu conforme a rotina habitual, com os alimentos sendo ofertados em comedouros para o GA, e nas mobílias e comedouros para o GB.  Na F2, a oferta da dieta foi fracionada seguindo a ordem do item de menor para maior palatabilidade.  Quadro 1 - Horário da oferta de alimentos durantes as duas fases do projeto (F1 e F2) para macacos rhesus do criatório científico do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB)/ Fiocruz. F1 F2 Horário Item alimentar Horário Item alimentar 09:30 Ração industrializada 09:30 Ração industrializada 10:30 Folhagem 10:30 Folhagem 13:30 Enriquecimento ambiental 11:30 Ração industrializada e legumes 14:30 Frutas, legumes e ovos 13:30 Ração industrializada e enriquecimento ambiental   14:30 Frutas e ovos  Os dados foram analisados de forma descritiva. A avaliação do consumo foi feita de forma visual classificando as sobras numa escala qualitativa: escore de 0 a 3. O escore foi considerado “0” quando não havia sobra, “1” quando a quantidade de sobra foi inferior a 30% do total, “2” quando a sobra foi superior a 30% e inferior a 50% e “3” quando a sobra foi superior a 50% do total.  Todos os procedimentos descritos estão em conformidade com as normas da Comissão de Ética para o Cuidado e Uso de Animais Experimentais da FIOCRUZ (LW-19/23).  Resultados e discussão Como resultado, no Grupo A, as sobras de folhagens apresentaram maior quantidade de escore 3 durante a F1. Na F2, apresentaram, em maioria, escore 0 e 1. Houve um maior consumo do espinafre nesta fase, com a redução do escore de sobra de 3 (F1) para 0 (F2). Esse aumento no consumo pode ser favorável, devido aos benefícios da fibra vegetal na saúde dos animais, como a consistência fecal e a promoção da saciedade (CUMMINGS, 1978). O agrião manteve o score 1 em ambas as fases, porém quando ofertado junto à rúcula, apresentou aumento de sobras (escore 3). Os legumes demonstraram boa aceitação durante a primeira fase, restando poucas sobras, com exceção do quiabo, que apresentou os escores 3 e 2. Na segunda fase, não houve sobra de quaisquer legumes (escore 0). O Grupo B, também demostrou boa aceitação de legumes na F1, exceto para quiabo, que apresentou escores 1 e 3, passando para escore 1 na F2. O fracionamento da dieta melhora o consumo, reduz as sobras e evita a deterioração do alimento, sobretudo, em dias mais quentes (DINIZ, 1997). Ambos os grupos, nas duas fases, apresentaram escore 0 para frutas. As frutas comerciais, geralmente contêm quantidades relativamente altas de açúcares simples e são fontes de energia facilmente utilizáveis (ASLAM et al., 2022). Fracionar a dieta pode ser considerado um processo de refinamento do manejo, uma vez que permite que os animais passem mais tempo de seu dia em comportamentos alimentares. Segundo Clutton-Brock e Harvey (1977), in situ, os animais ocupam grande parte de seu tempo ativo forrageando, podendo chegar a 90% da atividade diária de um PNH.  Conclusão     Com o refinamento do manejo alimentar, observou-se um menor quantitativo de sobras em alguns itens da dieta. Sendo assim, conclui-se que apenas o cálculo para uma dieta balanceada não é suficiente para garantir o consumo adequado. A pesagem dos itens, o porcionamento com oferta dos alimentos menos palatáveis para os mais palatáveis ao longo do dia e o acompanhamento do real consumo dos itens é de extrema necessidade para garantir a nutrição, saúde, bem-estar dos animais, devendo ser incorporada ao procedimento padrão de rotina do criatório. Referências ANDRADE, M. C. R. Criação e manejo de primatas não humanos. In: ANDRADE, A., PINTO, S. C., OLIVEIRA, R. S. Animais de Laboratório: criação e experimentação. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, Cap. 19, p. 143-154. 2002. ASLAM, S.; KAYANI, A. R., ASHRAF, M. I., JAMEEL, M. A., SAHAR, K. Food preference of Rhesus Monkey (Macaca mulatta) in the Margalla Hills National Park, Islamabad, Pakistan. Pakistan J. Zool. P. 1-14. 2022. CUMMINGS, J. H. Nutritional implications of dietary fiber. The American Journal of Clinical Nutrition. v. 31, ed.10, p.21 – 29. 1978. CLUTTON-BROCK, T.H., HARVEY, P.H. Primate ecology and social organization. J. Zool. Lon., 183: 1-39, 1977. DINIZ L. de S. M. Primatas em cativeiro: manejo e problemas veterinários: enfoque para espécies neotropicais. São Paulo: Ícone. 196p. 1997. HAMMERTON R., HUNT K.A., RILEY L.M. An investigation into keeper opinions of great ape diets and abnormal behaviour. Journal of Zoo and Aquarium Research 7(4): 170–178. 2019.  MELLOR D.J., BEAUSOLEIL N.J., LITTLEWOOD K.E., MCLEAN A.N., MCGREEVY P.D., JONES B., WILKINS C. The 2020 Five Domains Model: Including human-animal interactions in assessments of animal welfare. Animals 10(10). 2020.  NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Nutrient requirements of nonhuman primates. Washington, D. C.: The National Academy Press, n. 2. 2003. PISSINATTI, A.; GOLDSCHMIDT, B.; SOUZA, I. V. Taxonomia. In: ANDRADE, A.; ANDRADE, M. C. R.; MARINHO, A. M.; FERREIRA FILHO, J. Biologia, manejo e medicina de primatas não humanos na pesquisa biomédica. Rio de Janeiro: Fiocruz. Cap. 2, p. 41-56. 2010. SIMMONS, H. A. Age-associated pathology in rhesus macaques (Macaca mulatta). Veterinary Pathology, [S.l.], v. 53, n. 2, p. 399-416. 2016.

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Publicado

2024-11-22

Edição

Seção

Pesquisas científicas e tecnológicas

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