A COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA MEDIADA POR PARES: UM PROGRAMA PARA FORMAR PARCEIROS DE COMUNICAÇÃO

Autores

  • CARLA NETO DO VALE HEINRICHS
  • IASMIN ZANCHI BOUERI

Resumo

O trabalho ora apresentado é o recorte de uma pesquisa e seu enfoque será a formação e desempenho dos pares como parceiros de comunicação. A hipótese sustentada é que a formação dos interlocutores que convivem com a criança no ambiente escolar pode favorecer a utilização de um sistema de comunicação alternativo, a generalização e manutenção das habilidades de comunicação aprendidas pelo usuário do sistema. Os participantes foram uma criança de cinco anos, com necessidades complexas de comunicação e diagnóstico de Autismo, e seus colegas de turma na Educação Infantil. Para a criança com Autismo, foram implementadas as seis fases do Sistema de Comunicação por Troca de Figuras – PECS, associadas a um procedimento de ensino conhecido como Vídeo Modelação. Para os colegas de turma, foi elaborada uma formação prática, aplicada durante o período letivo. Foram planejadas atividades lúdicas, principalmente envolvendo música e movimento, para promover a interação da criança com Autismo com seus colegas e proporcionar variadas oportunidades de comunicação funcional. Os resultados alcançados com a implementação do PECS para a criança com Autismo demonstraram que ela obteve ganhos significativos nas habilidades de comunicação. Além de completar todas as fases do PECS com desempenho médio superior a 90% de aproveitamento, aprendeu a comunicar-se funcionalmente pela troca de figuras associada à fala, aumentando significativamente o número de palavras inteligíveis pronunciadas conforme a intervenção foi avançando. Os colegas de turma aprenderam a atuar como parceiros de comunicação competentes e assertivos, e se mostraram, após a intervenção, mais interessados em envolver-se nas brincadeiras em que a criança com Autismo participava, compreendendo rapidamente que ela precisava de um meio alternativo de comunicação. Acompanhar o desempenho dos pares como parceiros de comunicação exigiu muito planejamento e esforço por parte dos pesquisadores, devido às múltiplas interações que se desenrolam no contexto de uma brincadeira ou até mesmo durante uma atividade regular na sala de aula da Educação Infantil. Esta pode ser, dentre outras, uma das limitações que impedem que sejam realizadas mais pesquisas que examinem o efeito do ensino sistemático de crianças com desenvolvimento neurotípico para serem parceiras de comunicação de crianças usuárias do PECS, principalmente quando se trata de um ambiente natural de interação. A maior parte dos estudos que implementaram a formação de interlocutores foram feitos com professores, pais, cuidadores ou terapeutas, portanto um diferencial desta pesquisa foi a formação dos pares, tendo em vista que os trabalhos apresentados sobre este tema na literatura, tanto estrangeira como nacional, são escassos. Os resultados obtidos demonstraram que intervenções como as descritas neste estudo são possíveis de serem aplicadas no contexto natural, o que pode potencializar o efeito do ensino. Deste modo, a pesquisa propiciou ganhos para todas as crianças envolvidas: para a criança com Autismo, que aprendeu a generalizar suas habilidades com múltiplos parceiros de comunicação, e para as crianças de desenvolvimento típico, que aprenderam não só a atuar como parceiros de comunicação competentes mas também a verdadeiramente acolher e incluir, aumentando o engajamento e a participação de seu colega com necessidades complexas de comunicação.

Downloads

Publicado

2023-12-22