RELATO DE EXPERIÊNCIA: ACOMPANHAMENTO FONOAUDIOLÓGICO DE CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA VISUAL CORTICAL EM UMA CLÍNICA-ESCOLA

Autores

  • Renata Kelly da Silva Brito
  • Amanda Brait Zerbeto
  • Regina Yu Shon Chun

Resumo

Introdução: Na formação em Fonoaudiologia em uma universidade atende-se casos neurológicos variados, que podem se beneficiar da Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) para favorecimento da linguagem. Apresenta-se relato de experiência da intervenção fonoaudiológica de uma criança com paralisia cerebral (PC), não oralizada com deficiência visual cortical (DVC), que demandou auxílio especializado interdisciplinar.Objetivos: Relatar experiência de atendimento de uma criança PC com DVC, tetraplégica, cadeirante e não oralizada em clínica-escola de uma universidade pública do estado de São Paulo.Público-alvo: Discentes da graduação de Fonoaudiologia, pessoas com necessidades complexas de comunicação (PNCC), familiares de crianças com PC e DVC, profissionais de saúde e educação.Descrição das ações envolvidas: Dada as características do caso, buscou-se conhecimentos específicos para maior compreensão de demandas tais como postura, manuseio e posicionamento da criança, além de cuidados e estratégias visuais na DVC. A implementação da CSA sucedeu-se com algumas adaptações para favorecer a experiência visual da criança, como posicionamento de cabeça em posição central; de costas para a fonte de luz, no caso da sala de atendimento, a janela, para diminuir estímulos luminosos; estimular o resíduo visual do olho direito, oferecendo o objeto/símbolo no campo visual esquerdo e centralização do mesmo para estímulo do resíduo visual do olho direito; utilizar plano de fundo preto para a criança focar no objeto/símbolo central. Foram trabalhados símbolos e  gestos para “sim” (sorriso) e “não” (mostrar a língua, movimento mais efetivo para criança), de modo a garantir sua autonomia de resposta. Foram realizados encontros com a família sobre uso da CSA e atendimentos fonoaudiológicos mensais com outras crianças de diferentes queixas fonoaudiológicas do mesmo grupo de estágio.Resultados: O encaminhamento e a discussão do caso com profissionais (fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e pedagoga) especialistas em deficiência visual trouxeram importantes subsídios para adaptações nos acompanhamentos fonoaudiológicos individual e grupal. As estratégias para DVC e CSA se mostraram efetivas com maior participação da criança e aumento da vocalização nas atividades. A família se mostrou satisfeita com a ampliação das possibilidades de comunicação e do brincar com a criança. Destaca-se a postura inclusiva das outras crianças e estagiárias nos encontros grupais realizados. No primeiro,  observou-se que, após a estagiária responsável explicar a necessidade de uso da CSA com fundo preto, das cortinas fechadas e o significado dos gestos para  “sim” e “não”, as outras crianças, todas falantes, espontaneamente, começaram a apresentar suas atividades para a menina, além de incluí-la em suas narrativas. No segundo encontro, ao apresentarem seus desenhos, a contribuição interdisciplinar foi importante, ao passo que transcendeu o espaço de atendimento individual, sendo incorporada pelas outras crianças e estagiárias de modo a favorecer o uso da CSA  e promover a inclusão social. Além disso, atender esse caso com demandas próprias da PC, DVC e CSA tem sido uma experiência desafiadora e enriquecedora na formação para uma atenção humanizada e integral.

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Publicado

2023-12-22