Práticas de Cuidados em Comunicação Aumentativa e Alternativa: o ponto de vista das mães

Autores

  • Bárbara Macedo
  • Regina Maria Ayres de Camargo Freire

Resumo

A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), que integra a área de conhecimento da Tecnologia Assistiva (TA), preconiza a participação da pessoa com deficiência e de sua família na definição do que interfere em sua acessibilidade e na busca de soluções. No entanto, há uma lacuna no campo das pesquisas científicas sobre como as famílias de crianças com deficiência participam da implementação dos recursos assistivos e como a escuta de seus saberes é contemplada. Neste cenário, essa pesquisa teve o objetivo de problematizar as práticas de cuidados em CAA e, para fazê-lo, alçou como metodologia a produção autobiográfica de três mães de crianças com deficiência. A categoria analítica escolhida foi o cuidado, considerando a articulação entre o campo da Ética do Cuidado e o da Psicanálise, tomado a partir de três eixos: dependência, alteridade e autonomia relacional. Os resultados indicaram que os relatos maternos trazem grandes contribuições para a discussão do que são ações que reproduzem formas hegemônicas de existência e ações que favorecem a emancipação. Os seguintes pontos foram entendidos como importantes para o avanço do campo científico da CAA: 1) tendo em vista o caráter de dependência inerente ao humano, e a desnaturalização da fala, o uso de apoio para a comunicação não é restrito a quem utiliza recursos de CAA. A possibilidade de interagir pela linguagem está para além de um aparato biológico funcionante e da disponibilização de um recurso, uma vez que, se não houver a sustentação de um outro, emprestando seu corpo e sua fala, tal processo estará barrado; 2) o princípio da alteridade no campo da CAA pressupõe que as soluções sejam tomadas a cada caso e em cada contexto, considerando que cada criança se movimenta na linguagem e convoca o outro de um modo particular, o que inviabiliza indicações baseadas em categorias e diagnósticos que homogeneízam os sujeitos. A abertura à alteridade, para a criança poder dizer sobre si e ter a sua existência reconhecida pelo outro que a escuta e a interpreta, é um processo que não se restringe à fala oralizada, o que viabiliza que a CAA esteja a serviço da manifestação da diversidade humana; 3) a implementação de recursos de CAA, conforme o conceito de autonomia relacional, seria definida a partir das relações de cuidado significativas da criança, dando ênfase ao que é construído no encontro humano em detrimento da hipervalorização do recurso isolado e de medidas prescritivas. Esse campo relacional não está referido a uma conduta educativa, adaptativa e de treinamento, mas a um contexto no qual crianças e cuidadores são afetados pelas manifestações uns dos outros, sujeitos aos equívocos próprios da linguagem, sem estarem limitados a padrões de respostas. Conclui-se que a pesquisa permitiu a identificação de pontos de entrave no uso do recurso de CAA quando este se restringe a uma prática prescritiva, educativa e baseada em universais e que, como uma alternativa, visando a ampliação da agência das crianças com deficiência, a escuta de cuidadores e crianças estaria envolvida em todo o processo da CAA.

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Publicado

2023-12-22