INVESTIGANDO A ETIOLOGIA DA DOENÇA DE HAFF: ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE AMOSTRAS DE PEIXE ASSOCIADAS AO SURTO OCORRIDO EM NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2020 NOS ESTADOS DE PERNAMBUCO E BAHIA, BRASIL
Palavras-chave:
doença da urina preta, doença transmitida por alimentos, análise qualitativa, biotoxinas aquáticas, toxicologia, segurança de alimentosResumo
A doença de Haff é tipicamente desenvolvida após a ingestão de pescado
contaminado, tendo como principais achados clínicos a rabdomiólise seguida de mioglobinúria.
Os primeiros relatos da doença no Brasil ocorreram em 2008 nas regiões Norte e Nordeste e,
desde então, sua incidência nestas regiões tem aumentado. Amostras de peixes (água doce e
salgada), água e solo das regiões afetadas, bem como amostras clínicas (soro, fezes e urina) de
pacientes diagnosticados já foram analisadas, a fim de identificar a presença de agentes
químicos ou biológicos que possam ser responsáveis pelo desencadeamento da doença.
Contudo, sua etiologia permanece desconhecida, o que a enquadra como uma doença
emergente e um evento de saúde pública. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi
contribuir com esta investigação, através da realização de uma análise exploratória em amostras
de peixes in natura e sobras de refeições à base de peixe associadas ao surto de doença de Haff
ocorrido em novembro e dezembro de 2020 nos estados de Pernambuco e Bahia. O principal
peixe implicado nos episódios foi o Olho-de-boi (arabaiana ou olhete), provavelmente
pertencente à espécie Seriola lalandi ou Seriola dumerili. Diferentes métodos de extração para
análise em LC-MS/MS foram empregados. O propósito das abordagens analíticas foi
identificar palitoxina e grupos de biotoxinas relacionadas (ovatoxinas, ostreocinas e
mascarenotoxinas), uma das principais hipóteses etiológicas atualmente propostas pela
comunidade científica. A presença de outros contaminantes como a maduramicina e diferentes
ficotoxinas lipofílicas também foi investigada. O procedimento analítico adotado encontrou
indícios de palitoxina e ovatoxinas nas amostras. O futuro emprego de analisadores de massa
de alta resolução (LC-qTOF/MS) viabilizará a confirmação da presença destas toxinas nas
amostras bem como análise quantitativa ou semi-quantitativa. Ademais, abordagens
metabolômicas poderão auxiliar na investigação de novos análogos e/ou produtos de
transformação das substâncias identificadas neste estudo preliminar.