DOENÇA DE HAFF NO BRASIL: UMA PREOCUPAÇÃO EMERGENTE E SEU IMPACTO SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DE PESCADO NAS REGIÕES NORTE E NORDESTE
Palavras-chave:
doença da urina preta, doença transmitida por alimentos, toxicologia, segurança alimentarResumo
A doença de Haff é tipicamente desenvolvida após a ingestão de pescado, tendo
como principais achados clínicos a rabdomiólise seguida de mioglobinúria. O primeiro
surto da doença foi relatado em 1925, na Alemanha. Já no Brasil, os primeiros relatos
ocorreram em 2008 nas regiões Norte e Nordeste e, desde então, a incidência da doença
tem aumentado. A incerteza a respeito de sua etiologia ainda enquadra a enfermidade
como uma doença emergente e um evento de saúde pública. Sendo assim, através de uma
revisão de literatura, teve-se como objetivo investigar o impacto do surto da doença de
Haff ocorrido entre os anos de 2020 e 2021 na produção de pescado das regiões Norte e
Nordeste. A pesca artesanal assume um papel socioeconômico essencial em estados como
Amazonas, Pará, Bahia e Ceará, alguns dos mais afetados pela ocorrência do surto. Como
estratégia emergencial, autoridades municipais vetaram temporariamente a
comercialização de espécies de água doce inicialmente associadas aos casos (Tambaqui,
Pacu e Pirapitinga). Posteriormente, outras espécies, incluindo peixes marinhos (Olhode-boi, Badejo, Robalo, Cavala e Dourado-do-mar), também foram associadas à doença,
atemorizando os consumidores. Em 2021, foi relatada uma queda de até 80% nas vendas
de pescado de comunidades ribeirinhas. Programas de apoio aos quase 60% de moradores
dependentes desta fonte alimentar e de renda nas localidades mais atingidas foram então
elaboradas. Contudo, a investigação da etiologia da doença de Haff segue sendo uma
prioridade. Atualmente, biotoxinas de origem aquática, em especial palitoxina e seus
análogos, compreendem uma das principais hipóteses sustentadas pela comunidade
científica. Os resultados oriundos de pesquisas neste tema podem contribuir para a
elaboração de estratégias de políticas públicas permanentes, como o monitoramento da
produção e de ambientes aquáticos das regiões afetadas, mitigando a ocorrência de surtos
e o impacto destes na produção de pescado das regiões Norte e Nordeste.